Lembro-me de dias em que tudo a volta fazia
sentido, como a chuva ao cair sobre o chão, molhando a terra, trazendo
consigo momentos de puro prazer. O vento que ao encontrar-se com os
cabelos, seria como uma donzela em um baile, convidada para dançar à
melodia da canção. O ir, o vir, o tempo, até mesmo o sorriso e o
saborear de um belo vinho.
O agir contra essa linha, é irreal, é navegar sem direção, é rir na tristeza, é amar sem ao menos senti-la, não amamos em parte, ele se compõe integralmente. Se o que sinto é transversal a tudo que existe, não existo... E se existo? Sou como um cadáver que mesmo respirando clama por ressurreição. O dia em que o mundo desvendar quem sou, será meu fim, meu termino, minha morte. Meu limite? Existe algo além do horizonte? O céu é o fim? Até que ponto vai nosso conhecimento sobre as coisas a nossa volta? Tão pequeno sou. Tão vulnerável e indigno de um ser que me mantém de pé como um pai que cuida de seu filho, que mesmo não o vendo, permite quedas, acertos, risos, choros, mas sempre estará por perto.
A música pra mim é um convite a navegar na imaginação, voar, transpor barreiras, fugir, voar, correr e caminhar entre mundo, abrir portas que jamais conheci e saborear bebidas jamais provadas, é ver nos cabelos de uma jovem ao lado da rua uma história, e se emocionar com quem ela é, mesmo sem a conhecer, é ver nos pingos da chuva acompanhada pelo sol a lagrimas de um Deus ao alegrar-se por sua criação. Creio em um Deus emotivo, humano, sentimental, apaixonado e poeta. A música me permite romper a janela da “realidade”, entrando num mundo só meu e dos que são convidados a encontrá-lo.
Ainda admiro a força de pessoas que fazem de tudo para conquistar coisas que o tempo corroí, sacrificando seus sentimentos... Enquanto que outros com sentimento ao ver de longe, mas aparenta egoismo, entristece a alma dos mortais. Não sinta-se culpado, por conhecer outros mundos. Tudo parece lindo e perfeito a minha volta, a criança correndo na areia, o óculos grande no rosto na jovem a minha frente, a senhora com seus netos, o patrão que respeita seus amigos no trabalho.
Não preciso de muito para me alegrar, a vida me convidou, o Criador me convidou para estar aqui. Pedirei desculpas o quanto por possível, errarei o quanto for necessário, celebrarei cada conquista e chorarei cada dor, na certeza que fazem parte de mim. O que posso fazer? Saborear cada momento de minha existência ao lado de pessoas que como eu, vive o amor, a beleza e os erros, nas dimensões de sua graça. Em uma geração onde somos empurrados a ser deuses, resisto, e em alta voz, clamo: que me basta ser humano.
Abraço,
Elmadson
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