Há
várias maneiras de sentir mesmo que breve, poderia assim dizer. Não mais
que um passeio, devaneio, cogitando a inércia dos deuses. Pagãos ou
não; são deuses. Mestres que na penumbra desfilam entre os mortais, na
esfera da vida, semeando por entre as janelas o desbotar da passagem
mesmo que breve.
A frescura do não saber, encontrando o sim, flertando o talvez, teria pois a resposta do acaso? O sono do injusto entrelaçado com a ilusão das dores? Deuses e deusas são seres ou criaturas? O verso solto, ousado, místico, ou quem sabe utópico. O lugar de sua existência teria pois garagens, bares, roda de viola e livrarias? O reencontro de Zeus encantado com a beleza feminina. Seria possível um deus se apaixonar perdidamente por outro ser? Só de imaginar...
Gostaria de ver um
entre nós, apresentar nossos prédios, aviões, rodovias, mostraria
nossas praias, o sol... todo encanto e prazer que os humanos desfrutam,
os bares, os amores, a bossa nova, o cinema, bem mais que isso. Não sei
se o cativaria tanta emoção por sua presença. Porém, choraria ao ver
como tratamos o semelhante. Não o jugo por ser pagão, sendo que no
final, talvez o mesmo compreenda que o pagão somos nós, com tantas
palavras, pouca ação, mentindo para nós mesmo, fingindo acreditar que
nossos capazes de sermos humanos.
Ao deus que breve veio sobre nós,
que na penumbra debruça sua ingenuidade a criança na calçada, sim. Já
não somos ingênuos, superamos os deuses. Somos donos do nosso próprio
destino, nossas ideologias fingidas por cigarros, álcool e mentiras.
Ignorantes? Não mais. Que por entre os dedos percorram janelas, flores e
ar. Que os sonhos respirem o infarto crescente capaz de transportar a
nós pra outra dimensão. Seria o mundo dos mortos ou dos deuses? Se mesmo
entre nós o semelhante, somos tão diferentes, como seria em meio a
seres ultrapassados por assim dizer? Que os deuses não nos ouça. Que
seja como agora, infantil, banal e carnal.
Que venha suas
carruagens, mantos e fogo, sua ética, sua cultura, não acreditamos em
vocês, evoluímos e sabemos muito bem viver sem vocês. Essa é a canção.
Tente interpretar os versos, tente compreender o amor do humano, à deusa
do romance. Qual a cor dos olhos seus? Por mim seriam negros, sim
negro. Pele pálida, cabelos negros sobre os ombros. Não uma bela mulher,
mas normal, que venha os seus pneuzinhos, seus óculos de graus na mochila, pegando o ônibus ao centro da cidade em busca de um lugar para
se tomar um café e conhecer novas pessoas.
Que o encontro solto não
desfaça a beleza do normal, sendo que o normal não mais é que o
natural, ou banal em nós. Luxo é a simplicidade, poucos sabem de tal
afirmação. Quisera eu pelas ruas encontrá-la quer seja pelo desencontro,
ou mesmo sendo atendido em uma cafeteria, ou mesmo me dizendo obrigado
por algo que fiz.
Que os deuses entre nós saibam priorizar o que
negligenciamos com muita facilidade. Corremos atrás do tolo, do inútil.
Ao ter o desejo de conhecer a travessia do místico a fantasia. Que
cantem entre nós canções, seu ar flua entre nós o aroma de seu mundo.
Bela por ser normal. Não mais as mentiras que a nós temos orgulho. Mas
simples por ver a beleza do inútil. Que os deuses desejem o melhor pra
nós, assim seremos eternos enquanto existirmos envolto de ilusão.
Breve...
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