São 15h10min da tarde,
vejo pessoas indo e voltando, alguns de seus serviços, outros da escola e
alguns apenas praticando caminhada. É interessante ver como as pessoas agem, e mesmo
a distância poder ver como tudo parece superficial, mas se observasse mais de perto,
ouviria longas histórias vinda da parte de cada uma delas. O que está passando
na cabeça do vendedor de pipoca? Quais seus medos e desafios? O casal
conversando perto da árvore, como eles se conheceram? Todos têm seu próprio
universo, onde sábio é aquele que sabe apreciar a individualidade de cada
pessoa.
Enquanto não me perco
totalmente no tempo de meus pensamentos, observo que do outro lado da rua num
banco de praça existe uma garota aparentemente sozinha com seu celular, e tudo
indica que ela deve estar esperando por alguém, meio distraída, era como se
estivesse sozinha em um mundo criado por ela, acho que a mesma poderia está em
qualquer lugar, e mesmo assim não notaria a diferença. A mesa de xadrez, os
pombos sobre o chão comendo as migalhas perto de um lindo chafariz a embelezar
o local com todas as crianças em volta. Percorro meus dedos sobre o livro em
direção ao próximo capitulo a prosseguir na leitura, deseje-me sorte e a todos
que compõe essa bela tarde.
Tempos atrás...
O sol ofusca meus
olhos, e assim meio que não enxergando direito devido a luminosidade vou ao seu
encontro na areia, não estou disposto a mergulhar na praia. Você ri e diz: pare
de ser bobo. E com todo seu jeito tenta me persuadir a entrar na água. Não vai
conseguir – digo eu. Ela ri. Então o que vamos fazer? Ela para um pouco e
convence-me a irmos tomar um sorvete.
- Espere apenas eu buscar
minha bolsa e colocar uma blusa, já volto.
- Você paga, certo? – respondo. Ela ri.
Foi nessa tarde
quente, que vi nos olhos dela o brilho mais vivo que tinha visto em alguém, a
forma como ela tocava seus cabelos, e como ficava sem graça ao deixar cair
sorvete sobre a bolsa. Você é tão sem graça – dizia ela rindo. Duas taças de
sorvete foram suficientes para marcar na alma o que uma tatuagem nunca fez ou
irá fazer com milhares de agulhas em alguém.
II
Era tarde da noite e a
rua estava deserta, eu estava na parada do ônibus quando você apareceu
segurando sua mochila, como se a qualquer momento alguém fosse aparecer e
rouba-la, nunca tinha visto tanto medo em uma pessoa, sentou-se um pouco
afastada de mim. Pergunto-me às vezes o que ela pensou a me ver naquela noite.
Sentamos ao mesmo lado no ônibus e desde então nunca mais ficamos distantes, o
que me marcou nesse encontro repentino quando nem mesmo nos conhecíamos? Talvez
a forma como ela me olhou. Parece engraçado, mas mesmo sem namorarmos o destino
já nos tinha reservado um ao outro. Seria a vida nosso cupido? Ela passou toda
a viagem sem conversar comigo naquele dia, mas depois que estivemos juntos em
outras ocasiões, sempre riamos desse acontecido, acho que por isso quero deixar
registrado esse momento.
Sempre que tocava neste
assunto ela ria, e ao mesmo tempo ficava de bochecha vermelha e pedia que eu
parasse. A vida sempre nos presenteou com boas lembranças e ninguém nunca sabe
quando uma simples volta pra casa pode mudar toda sua história. A vida é mestre
em interferir na rotina e nos surpreender com suas cartas escondidas.
III
O beijo matinal, o
sorriso distraído ao dormir, o sussurro de palavras sem nexo e o perfume. Seria
estranho se dissesse que ela ficava linda dormindo de boca aberta? Acho que ela
nunca descobriu o bem que me fazia ao vê-la feliz. Talvez meu sorriso não fosse
tão sincero assim, eu acho, mas ela sempre dava um jeito de me tele transportar
para o mundo real. Você sonha muita – dizia ela. Acredito que até nossas discursões
foram fruto de amor, não por egoísmo, mas para crescermos juntos, e nesse tempo
aprendemos a olhar nos olhos do outro e ver além da alma.
Ela sempre dizia:
volte logo por que estarei aqui a sua espera.
Ir ao trabalho era o
intervalo para tê-la novamente em meus braços.
Assim foi durante
muito tempo.
Enquanto isso, hoje...
As taças de sorvete
sobre a mesa vazia, o vento frio que o mar traz a areia. Até hoje pego o ônibus
no mesmo horário e por mais que pareça estranho, ainda não me acostumei com
outro alguém ao meu lado, que nem mesmo saiba o meu nome. Faz anos que não
sinto seus braços ao acordar me pedindo para ficar mais um pouco. Qual tem sido
seu lanche pela manhã? Está chegando o inverno e espero que esteja bem
agasalhada para o frio que virá.
Esta anoitecendo e a
rua está ficando deserta. Pego minha mochila e jaqueta, está ficando frio, mas ainda
vejo aquela garota no banco na praça, de blusa xadrez, calça jeans desbotada,
algo me diz que ela vai ficar bem. Sabe o que é estranho? Bem que poderia ser
você, assim não teria mais as noites frias.
Sigo só na incerteza
de quem errou, eu, você ou o destino? Se nesses anos alguém nos dissesse que no
futuro estaríamos separados, talvez criássemos um caminho desconhecido, fazendo
então uma nova rota, trajetória essa que apenas eu e você saberíamos onde íamos
chegar nessa tarde de Outono.
Abraço,
Elmadson
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